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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Tristeza do Anjo



Hoje vi os anjos a chorar...
Deus trabalha em maneiras tão misteriosas...
Tão horroroso o som, das lágrimas – pingar...
Compreendo tanto, mas não percebo as estrelas furiosas...


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Vindimas



Era cedo de manha, quando o motor do meu carro, finalmente parou de roncar. Chegamos a Monção, uma pequena, antiga vila, situada na beira do Minho entre Espanha e o resto de Portugal.

Saímos do carro... A manha estava fresca e húmida. Os cantos de pássaros, parecia fortaleciam a o imponente paz e sossego que permanecia naquele lugar. O meigo sol de Setembro chovia de raios, saciando de brilho a ondulação do rio que lambia as costas Ibéricas.

Mas o amigo jovem que tinha vindo comigo, não parecia estar apreciar as belezas da mesma forma que eu. A estrada longa e cheia de curvas trouxe-lhe uma sensação de enjoo e também do sono que não o queria largar... Ele olhou para o céu e espreguiçou-se esticando o seu corpo o máximo possível. Depois suspirou e ficou observando, de olhos meio fechados, na expectativa de reparar nas lindas paisagens que o rodeavam. O seu castanho, despenteado cabelo e a cara de sono, influenciavam, transformando-me num ser jocoso. E realmente, depois de um par de piropos meus e o contacto com o ar puro, o sono passou, deixando-lho sobre alguns dos seus pensamentos... Provavelmente, ele, andava a sonhar de algo... Não sei...

A frente dos nossos olhares estava uma casa robusta, com um pequeno e lindo jardim na sua face e vários galinheiros enferrujados na parte traseira. A seu lado esquerdo, prolongava-se escura verdura das vinhas, esperando pelas pessoas, cujos vozes já se ouviam atrás da casa. O portão estava aberto e nós entramos. Era a casa da gente boa... A dona Céu recebeu-nós com muito carinho e acompanhou até ao campo, onde já estavam algumas pessoas a começar a vindima...

Pegamos nos cestos e ocupamos uma das fileiras. Respirava-se mesmo bem. O vento leve e fresco descia das copas das montanhas espanholas para sussurrar-nos algo nos ouvidos. Cheirava a terra e ervas húmidas. Aqui e lá ouvia-se vozes de pessoas vindimando, mas isto não perturbava o silencio do lugar. Eu, parecia que conseguia ouvir a queda de gotas do orvalho que obedeciam os meus braços da sua frieza. Os minutos passavam um trás outro e o sol subia cada vez mais alto acariciando os nossos ombros. As vinhas eram altas e tão cheias de folha que muitas das vezes era preciso mergulhar para baixo delas para encontrar os cachos de uvas que lembravam pérolas no fundo do mar. Estar de baixo dessa verdura toda, fazia sentir que estávamos num mandril, muito bem acolhidos. As conversas eram alegres, as tesouras clicavam alto e os cestos enchiam-se rápido. Entre as folhas que tremiam do vento, com medo que ele as levasse, reparei num grande cacho de uvas que estava no alto a banhar-se nos raios de sol e estiquei-me para o apanhar. Mas falhei ao cortar-lo, traçando varias uvas... O seu sumo quente sobrou na abundância para cima da minha cara, e foi bom sentir-lo, fiquei alegre. Passei a língua a volta da boca tentando apanhar algum sumo, e era muito doce... Então atrevi-me de comer algumas uvas desse mesmo cacho antes de mandar-lo ao cesto. Era delicioso... De repente ouvi um som de um sino a minha beira. Fiquei surpreendido a pensar de onde é que vinha a linda musiquinha. Olhei para baixo dos meus pés e reparei numa pequena gatinha siamesa com um sino no pescoço. Brincava entre as ervas apanhando os insetos e depois cansada deitou-se a minha beira demonstrando que queria fazer companhia. Eu chamei por ela e ela miou-me em resposta, afixando em mim os seus fundos olhos azuis. Fazendo-a ronronar, esfreguei-lhe atrás da orelha e ela franziu os olhos parecendo estar a sorrir do prazer...

“Andai picar rapazes” - ouviu-se a vos duma mulher camponesa em nossa direção. Nós tanto envolvidos na vindima, nem apercebemos que era para nós que ela falava. “Rapaziada, andai picar!” pronunciou ela de novo aproximando-se a nós.
O meu amigo perguntou-me o que significava a palavra “picar” no contexto que a mulher tinha dito, e eu tive de lhe explicar que no norte de Portugal, “picar” significa comer pouco, ou seja – tomar o pequeno almoço. Geralmente nos trabalhos como este apenas é oferecido o almoço, mas na casa de boa gente é diferente, haja sempre de tudo desde que a gente continua a ser boa...
Queijo de cabra, sardinhas picantes, fiambre e chouriço, boa broa e baguetes do forno a lenha. O cheirinho de tudo isso vinha da mesa que estava por de baixo de uma grande nogueira a fazer sombra. Quando lá chegamos, já havia muitas pessoas a volta da mesa, todos alegres e envolvidos na conversa. A dona Céu andava preocupada a volta das pessoas, empurrando os mais tímidos para beira da comida. O meu amigo encontrou uma noz caída no meio das ervas, e sorridente, ofereceu-me la. Pois já sabia de que eu gostava muito de nozes e partia as sempre a mão, nem que fossem muito duras. E já tinha ensinado esse truque a ele. Esse amável gesto dele, sem duvida tornou-me mais contente ainda, e eu não demorei a partir a noz sacando todo o seu interior. Mas não passaram e trinta segundos, quando o meu amigo já tinha encontrado a outra e fazia o mesmo que eu, exibindo a força dos seu braços. Começou o jogo da caça de nozes e já ninguém lembrava do queijo de cabra na mesa...

Para frente ainda havia muita uva para vindimar, muita língua a esticar na hora do almoço, muitos beijos e elogios para dar a velhinha Dona Maria – mãe da Dona Céu e outras coisas boas por alem... Mas isso já seria outra historia...
Uma coisa eu sabia exato sobre o tempo que passei nas vendimas - este seria mais um, de aqueles especiais, alegres e meigos dias, que para sempre ficam na minha memoria, iluminando os meus pensamentos...






sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Вечерело



Солнце за горизонт опускается,
Лучей, засобой, уводя oплот,
Словно море, тьма к стопам моим ласкается,
Бренные мысли встают в хоровод...


Tradução: Russo/Português.

Trás do horizonte vai descendo o sol,
Levando consigo o exercito dos raios,
Feito mar, a escuridão acaricia-me os pés,
Os pensamentos pesados juntam um circulo...




Amo-te...



Por mais que custa-me dizer: eu sou poeta
E amo diferentemente,
Sobre paixões, fácil, posso escrever,
Mas o amor por ti devora toda minha mente...

Constantemente a pensar em ti na flama ardem versos lentamente,
E quando falas, ressona, tenra, voz de ti, dentro de mim,
E cada som  - és tu, e cada vez a ti me ponho mais atente.
E cada vez que tu respiras eu sinto vento quente,

E sempre que me tocas - fico inocente...  

sábado, 3 de setembro de 2011

Outono Precoce


 
      Os meigos e sólidos dias do inicio do outono, embora são quentes, sempre trazem um leve animo da angustia. Talvez porque já sabes que, o que te espera passado uns dias mais tarde - será percorrer as ruas cinzentas debaixo da chuva lenta e fria, pisando o colorido tapete de folhas caídas. Parece que nesses dias a humanidade entra num estado da remissão completa para poder repensar de novo toda a sua existência. 
Pois e eu também fico a pensar e analisar. Penso e admiro: como é possível de rasgar o meu coração em tantos bocados, repartindo-los, e ver de sobrar tanto ainda. Parece que a carne nunca acaba mas os corvos  comem a bem...
Pensa, quantos adormecem assim como tu, pensando e olhando, trás do vidro da janela, sobre as agulhas da chuva, que cintilam na ténue luz dum lampião, que esta só no meio da rua silenciosa. E pela primeira, gloriosa, mas fria manha, vestem os seus pesados casacos como se nada fosse. Saiam a rua, sorrindo, sem se quer aperceberem-se que o outono chegou e que os tempos mudam constantemente...