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sábado, 21 de novembro de 2015

Voo de Perfeição



De repente acordei. Sonhei contigo. Estava a nadar no mar, debaixo de água, como um peixe, observando uma multidão de pessoas nadando pela superfície. Depois reparei em ti. Estavas debaixo de água como eu. Houve troca de olhares. Foi estranho… 
Não me apetece dormir mais. Vou passear...
Caminho pelo bosque nocturno, quase não vejo, quase não sinto, quase não ouço. Os frágeis cinco sentidos do meu corpo não se estendem para mais… Tão farto disto que me estou! Vou fazer o que não devo, vou contrariar as leis da mãe Natureza apesar de todos os “mas”... Para alguma coisa esse poder me foi atribuído, e sendo assim porque hei de me abster dele? Perscruto a escuridão a procura de um morcego certo. Até que vem um, negro como a noite. Brinca comigo, voa as voltas, aparece e desaparece, pisca por entre os raios da escuridão. Veloz e alegre ele, observa-me trás a sua dimensão… Os nossos olhares cruzam-se durante um milésimo de instante, porem mais do que suficiente para transição do meu eu. O meu corpo cai morto no meio de musgos e folhas secas, a respiração pára… Quando voltarei, as raposas poderão ter ruído o meu pescoço… Mas agora não importa, o morcego voa, voa para onde eu quiser! Outra dimensão de sensação mais potente, mais plena, mais sublime! Outra forma de ser e amar… Amar sem obstáculos que não existem no voo de um morcego. Amar num voo de perfeição!
Quando reparares num morcego brincando as tuas voltas, lembra-te, este posso ser eu, observando-te duma outra dimensão.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Sombra



Passaste por mim… Viste-me com o canto do olho, como costumas ver as sombras que te acompanham sempre… Eu não sou uma sombra! Mas tal e qual sei deixar o peso do meu olhar nas tuas costas… Sou uma sombra encarnada se tu assim preferires… Algures eu era a luz… Até o dia que a beleza do teu ser me assombrou… Passaste por mim, seguiste em frente, não quiseste olhar para trás, fizeste de mim a tua sombra… Os anos passam, as coisas mudam, nós não mudamos. Queremos e sonhamos mudar, mas não dá… Já não me lembro nada de nada do que aconteceu, de como te conheci, apenas sei que existes. Tu lembras cada momento, cada vibração, cada frase, mas rejeitas, tentas esquecer, tapas os olhos. Mas sabes? As sombras não desaparecem… Somente vão e vêm, vão e vêm, voltam sempre… Nada a fazer… O que morreu não pode morrer vezes mais… Sei que lá muito dentro de ti soa a minha voz como se a tivesses ouvido ontem. Esta voz nunca se silenciará. Isto é minha prenda para ti, para não esqueceres que a verdadeira Magia existe… Não quero que consideres isto como uma maldição. Nunca te quis mal algum, sempre fui verdadeiro contigo. Doí-te ouvir a minha voz porque me amaste… Porque deixaste a água correr… Porque baixaste os braços… Não lutaste pelo teu amor… Desististe da verdade que o teu coração te proferia e assim condenaste-te a sofrer… A decisão foi tua, eu nada podia fazer…


Uma vez perguntaste-me quem sou… Imagina um abismo sem fundo, este sou eu, sem exagerar… Uma vez tentaste saber quem és. Imagina a ti a olhar-me nos olhos, vês o reflexo de um outro abismo sem fundo? Este és tu, sem exagerar. Os miseráveis humanos que te rodeiam nunca vão perceber, e mesmo se lhes explicares não vão alcançar o patamar do que se trata. Mas tu no fundo de ti sabes… Sabes que és diferente…

Os anos passam, as coisas mudam, nós não mudamos. Se assim é, podemos mudar tudo, podemos mudar as coisas e as circunstâncias para estarmos juntos… A realidade somos nós…

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Lampião da Morte



Dormi sobre as campas,
À luz do lampião da Morte,

Num lugar sereno,
Onde alguém já morreu,
E alguém teve sorte,
Porque ainda não nasceu…

Os mortos não falam,
Estão calados…
O silêncio e a morte andam de mãos dadas.
O mistério não abre as portas…

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Temperança




Eles andam a minha volta silenciosos. Ninguém os vê, transparentes, camuflados, perigosos. Sabem quem sou e sorriem-me. Passam por mim a piscar os olhos negros, como quem diz, a mostrar, tu também sabes quem nós somos. Sabem os sacanas que não fico cego nas trevas. Sabem que não temo. Querem que volte com eles para o fundo. Sabem o mesmo que eu sei, sentem o mesmo que eu sinto. Predadores da raiz do seu ser, muito, muito pacientes, quase sem fim. Não dizem nada, apenas vagueiam a volta. As vezes não estão a vista, mas sempre presentes… Como tubarões no mar nocturno. Somente reparas neles quando já é tarde demais. Não dizem nada, apenas observam e sorriem. Sabem que cada raio de luz imanente do meu corpo consome. Sabem que não vai haver recuperação. Estão a espera que o meu corpo acabe para me levar de volta. Não querem o meu fim, querem mais um como eu no meio do aglomerado das sombras. Querem união e poder… 


Não aguento mais… Temperança… Temperança… Temperança… Todo poderoso Deus salva-me por favor!!!

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Oculto



Estas com dúvida? É escusado tentar perceber, não perceberás, nunca. Quem disse que somos todos iguais enganou-te. Não há nada universal, mas distinto também não há. Se eu sou tu e tu és outro eu, a primeira vista saberás, e aí não terá lugar a mínima dúvida, a menos do que é amor. Se duvidas, é porque a nossa mãe não é a mesma. A tua é humana e a minha é a imutável natureza, no ceio da qual eu te contemplarei com alegria em ora da tua gloria e observarei com pena em ora do teu padecimento. Se quiseres apreender comigo para poder compreender, terás que me obedecer. Ora, não poderá a ser, quando, eu estou ensinar-te a ser tu e tu sempre queres ser alguém...

sábado, 11 de abril de 2015

Louco


Amorrrrr!!!!
Eu quero abraçar o mundo todo! 
Eu amo!
Não... Não consigo abraçar o mundo, não consigo amar a todos!
Mas porquê? Porquê?
Ah já sei!!! Primeiro devo amar a mim mesmo! Devo ser o que sou!
Não... Não consigo amar a mim mesmo, não consigo ser eu!!!
Mas porquê? Porquê???
Alguém deve ter culpa disso! São vocês os culpados! Tu, tu, tu e tu! São vocês que me fazer ser o não eu!
Deixem me ser o que sou!!!!! Eu quero ser eu!!!
Esta... Esta pele não é minha! Não é minha esta pele! Eu quero ser eu!!!
Para que tantos termos gregos sobre amor? Agapé, Storge, Eros, não sei o que mais... É por isso que me enlouqueci...
E tu também tens culpa disso! Ouviste?!!! Tu, de quem eu Louco, sou a imagem e semelhança!

Eu apenas precisava de um, um puto termo, um parvo termo, mas universal!!! Que me permitisse amar o mundo todo!

sábado, 17 de janeiro de 2015

Último Poema de Merda


A onde nasce a poesia? Sai das mãos? Da boca? Ou apenas ganha a vida quando posta no papel? Difícil responder... Penso que fazer a filosofia nesse campo é escusado. Mesmo encontrando todas as respostas sobre a sua origem poesia não se tornaria melhor. O que a torna grande e o que vale mesmo não é a verdade dela, mas o que ela insere no mundo. E não se trata de gosto ou de desgosto, mas é de tudo mesmo, da imagem em si, da polissemia. De ai infiro que este será o meu último poema de merda. Escrevia os poemas bizarros para impressionar, para fazer amarros a mim mesmo, com palavras picantes, usando e provocando as emoções humanas de forma indigna. O que ganhei com isso, aplausos? Jogo de ironia, o suspiro de horizonte, tentei ser hipócrita, fiz todo possível, mas não consegui, esgotou a fonte... Eu triste poeta, o que posso ter? O que posso eu ser? Não! Chega! Eu sei que sou livre de não cometer a maldade! Deixa lá, não posso ter o saber, mas sempre fico na dúvida, escrevendo poemas de merda, o que valho eu para a minha cidade?